quinta-feira, 19 de março de 2020

Cola

Eu sou aquela que ele pensa quando vê um livro.
Com quem ele dá risada.
De quem ele lembra quando vê um gato amolando as unhas.


Quem ele sente saudade na saída pro trabalho.
Quem ele gosta de ouvir a voz, á uma da tarde.


Sou a que ocupa os pensamentos noturnos.
Quem ele procura na cidade.


Quem tira tua sanidade.
Pra ele porto seguro de emoções.
Sou a linha de espera nas ligações.
Sou nova, ninfeta, malvada.
Sou doce, cerveja e risada.
Sou o sexo antes de ir pra casa.
A desculpa esfarrapada.
Aquela que arranhou as costas.
Sou a saudade na noitada.
Quem ele chama dormindo.
Com quem ele te compara.
Sou tudo o que você acha que foi.
Sou o seu pesadelo, com corpo e alma.


00:12 de 18 de dezembro 

sexta-feira, 13 de março de 2020

Beloved




Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com meu nome.


Talvez pela bullyng sofrido na adolescência, e do quanto isso me marcou durante os anos seguintes ao ponto de pensar duas vezes sobre vestir algo mais sensual ou que mostrasse mais o corpo.


A industria da beleza se beneficia incrivelmente de pessoas como eu, e a mídia exalta corpos que em partes se parecem com o meu o que causa ódio e despeito no meio social em que eu vivia.


A preferencia dos garotos no auge da puberdade pelas garotas com seios fartos e quadril largo deveria me beneficiar no campo amoroso, bom, na verdade isso não acontecia, demorou anos pra acontecer na verdade.


A atenção que eu recebia por ser "bonita" virava pesadelo sala de aula a dentro, afinal em maioria ainda somos nós, mulheres, a rivalidade está mais no que presente em nossa vida, minhas coisas sumiam, eu era empurrada, xingada e tão mal falada que qualquer chance de aproximação com algum garoto da minha idade foi frustrada de todas as formas.


Isso doeu, ainda doí um pouco, as vezes.


 Meu nome sussurrado ao pé do meu ouvido anos mais tarde, se tornou música aos meu ouvidos mais voltava a ser pesadelo no início do ensino médio, os diminutivos do meu nome me irritavam pois no geral geravam uma falsa ideia de intimidade, os diminutivos me assombravam até que eu finalmente comecei a remar contra a maré.


Lembro de um paquera meu na época, ele me chamava pelo segundo nome, quando não por algum apelido, eu sai da escola, outras salas de aula vieram (cursinhos, faculdade, cursinho novamente) o apelido permaneceu, outros paqueras vieram e o meu nome na boca deles voltou a ser conforto e intimidade verdadeira. 


A sorte de ter um nome composto me beneficiara afinal, acho que em partes a idade também (tenho a impressão de que quando você fica mais velho as pessoas ao seu redor passam a te levar a sério), meu segundo nome era forte e me trazia uma segurança, afinal era extremamente incomum.



Os problemas do final da adolescência afinal se resumiram a tentar ser mais "magra" e menos "desbocada" a industria da beleza mais uma vez influenciando a minha geração, que de uma hora passou a exaltar corpos extremamente magros e escapulas salientes, o "ser gostosa" foi substituído por "ser bem feita" eu e minha melhor amiga na época nos jogamos de cabeça na onda.


Algo que teve consequências sérias pra nós duas anos mais tarde, a depressão e a bulimia se alternavam, e ela não sei se por carência ou por sentimento acabou dizendo meu nome ao pé do meu ouvido como outrora outros amantes tinham feito.

Hoje em dia já melhor de tudo o que a adolescência nos causou nos limitamos a nos tratar como "amor" ou "amiga" ou qualquer derivado da palavra que venha ao caso, o peso do meu nome em sua boca nos lembra aquela noite, colchão (de solteiro) no chão e as risadas entre o lençol que dividíamos.

Sinto saudade da nossa "amizade", e de tudo que ela implicava.




quinta-feira, 12 de março de 2020

Papel

Quando perdi meu celular meu mundo caiu.

Parece algo dramático eu sei, mais tudo estava lá.
os diversos textos sobre aventuras e momentos importantes e até os banais estavam lá!

Isso me fez voltar a pegar aquelas velhas agendas sabe? Essas que você tem durante a adolescência e que os amigos escrevem declarações de amor e amizade eterna, cética eu sempre soube que não eram, mais amava colecionar, hoje já um pouco mais velha não fazia mais questão da mesma.

O papel ficou no passado eu pensava, mais hoje revirando o guarda roupas e pegando as agendas coloridas com canetinha já desbotada com o tempo, sinto saudades, saudades de você também.

Ironia. No fundamental eramos melhores amigos e justamente nessa época (auge das agendas coloridas e dos cadernos de disparate) não tenho quase nenhuma assinatura sua, guardo alguns desenhos, nada demais. 

Doeu, doeu mais do que eu esperava revirar o passado.

Talvez fosse melhor deixar o papel no passado. 

Solitude

Os trovões la fora me trazem um conforto inexplicável, o conforto da minha cama combina com a tempestade lá fora.
Ultimamente eu ando tendo preferencia pela solidão.
 Isso é preocupante?
Constantemente as pessoas comentam entre si, do quanto ela é viciante, tenho minhas duvidas.

Apesar do conforto de apreciar a solidão em todas as suas facetas, lendo e escrevendo, a dor da perda e do descarte automático das pessoas ao nosso redor é dilacerante, a incompreensão gerada nos que nos cercam a respeito do momento vivido, nós faz pensar se o convívio social vale tanto a pena assim.

Na minha opinião, talvez nem tão relevante assim diante da imensidão de artigos científicos escritos e estudos sobre o tema, a solidão em seu auge (além de preencher todos os aspectos da nossa vida) não nos desconecta do "mundo real" na verdade chegamos a esse estado pelo o excesso de realidade afinal.

Então levando em conta o momento atual não seria a solidão em seu todo uma benção?
Alimentado os poucos poetas que restaram e nutrindo os errantes que depositam um pouco de si em cada palavra escrita.

Ou seria ela em toda sua tragédia um mal que assola as mentes mais fracas e incapazes de se posicionar contrariamente a algo tão tentador assim.
Um momento de paz, muitas vezes dolorido e desleixado mais ainda assim em paz.

Um relâmpago clareia o quarto  e meu gato desce da janela e se aconchega junto a min na cama, é talvez a solidão vicie.



quarta-feira, 11 de março de 2020

Cartas

Um dia te escrevo uma carta...

Não uma carta como tantas outras que escrevo, que nunca serão enviadas.
Que nunca terão o prazer de  sentir tuas mãos calejadas e nem o prazer de serem tocadas por teus dedos ágeis.


Eu sinto saudades, 
sempre houve uma grande promessa entre nós, 
algo que não sei explicar. 
Uma conexão talvez, uma sintonia que ainda não tive com ninguém.
Muitas vezes pareceu que tudo tinha acabado, mas eu, como uma trouxa qualquer, escolhia te dar mais uma chance, e todas elas valiam a pena,  resultando em uma foda sensacional. 
Mas isso não é o bastante, não mais.
As promessas que sustentavam nossa relação já não parecem tão atrativas. 
O sexo maravilhoso, me trás a tona sentimentos que tento sufocar aos poucos. 
As suas escolhas só te levam pra longe de mim, a cada passo que você da ao meu lado você dá dois ao lado dela .
Não sei lidar com a indiferença, nem com o silêncio, preciso de gestos de amor e pequenas doses de atenção. Preciso de presença, e de alguém ao meu lado. 
Mas o que posso esperar de você que se mostrou um fraco?
O tempo está passando, você está se afastando e acabando com o pouco que tínhamos. 

 Ao pé do meu ouvido você jura que me ama, mas é ao lado dela que você amanhece todos os dias.

Juntos, vocês dividem as alegrias e discutem as frustrações, todos os dias.

Isso me incomoda, incomodava pelo menos, todos dias.
Eu me auto sabotava em busca desesperada pra me desvencilhar de você.

Adivinha só? Estou conseguindo.

Para mulheres que são difíceis de amar - a afirmação

(Warsan Shire)


você é um cavalo correndo sozinho
e ele tenta te domar
te compara com uma estrada impossível
com uma casa em chamas
diz que você o cega
que ele não poderá
jamais te deixar
te esquecer
querer qualquer coisa
além de você
você o atordoa, você é
insuportável
qualquer mulher antes ou
depois de você
é extinta pelo seu nome
você enche a boca dele
seus dentes ardem com a memória do seu gosto
o corpo dele é só uma enorme sombra em busca do seu
mas você é sempre intensa demais
assustadora em seu modo de desejá-lo
sem vergonha e dada a sacrifícios
ele diz que homem algum pode chegar aos pés do que
vive em sua cabeça
e você tentou mudar, não tentou?
fechou mais sua boca
tentou ser mais suave
mais bonita
menos volúvel, menos desperta
mas mesmo dormindo você podia senti-lo
viajando para longe de você em seus sonhos
então o que você quer fazer, amor
quebrar a cabeça dele ao meio?
você não pode fazer casas em seres humanos
alguém já deveria ter te dito isto
e se ele quer partir
deixe que ele vá
você é aterrorizante
e estranha e bela
algo que nem todos sabem como amar


Darling

Meu querido amor.
 
Não pediste licença pra entrar em minha vida.
Muito menos para preenche lá,  de tal forma que não tem mais volta.

Sempre que me pego pensando em nós penso que não vale a pena.
Sempre que me pego pensando em você vejo que, mal há esperança para um nós.
Pro nosso amor, que sobrevive de migalhas por ambas as partes.
Amor que segundo as leis naturais já devia ter muchado, secado e virado pó.
Mais como uma planta do sertão que ao menor sinal de chuva se enche de esperança e fica tão verde quanto o jardim mais bem cuidado ao menor sinal de chuva, assim é nosso amor.
Que por mais que eu tente mata lo aos poucos, a menor possibilidade de te ver ele se enche de esperanças e a cada jura de amor ele floresce e cresce, independente do quão difícil tenha sido o período de seca, ou seria abstinência?
Sim. Abstinência, afinal você é mais viciante de todas as drogas que experimentei.

E como um viciado eu volto pra você.
14 de junho  
21:09


Incertezas

"Não, não tá nada bem."
Essa frase ecoa constantemente em minha mente, me fazendo sorrir, me fazendo lembrar de ti.
Parte de min já estava convencida que você não vinha mais, a outra parte queria ficar próximo de preferencia na a entrada, queria te ver chegar.
Tínhamos meio que discutindo por telefone, eu estava certa de que você vinha e de repente você não vinha mais, estava com a filha pequena, uma revolta cresceu em min, mais o que eu podia fazer?  Era sua filha, uma criança, não tinha culpa de nada.
Eu argumentei, me ofereci pra pagar sua entrada na festa, nada adiantou.
 E foi com um "Tudo bem, ela é sua filha." Que eu te liberei do seu compromisso comigo, você ainda tentou se explicar, me consolar, mais eu estava magoada, chateada com a situação embora tentasse afirmar mais pra mim do que pra você que "Tá tudo bem."
Mas não estava, e você respondeu firme "Não, não tá nada bem." E meu peito apertou de tristeza, apertou de saudades, e eu vi que eu precisava de você.
02/07/2017

Espera

E no final dessa tempestade eu tive que te ver partir.
Você nunca foi alguém de quem se costuma esperar mais do que uma aventura.
Eu tive que aprender a força que você nunca ficaria para tomar mais do que uma xícara de café depois de uma bebedeira, pior que me te queria durante a noite inteira.
Me encantei por esse teu espirito livre e não pude deixar de lamentar quando resolveu partir novamente.
Mas, no final das contas o que eu poderia fazer?
Quando estiver cansada das barbaridades do mundo e das injustiças da vida, eu ainda estarei aqui, pronto para te acolher a sina dos amantes talvez seja essa, esperar.

Praia

18 de Agosto,  
Um cigarro.
Lembro vagamente o quanto os odiava.
Agora estou aqui sentada ao seu lado, dividindo um cigarro,
e a viagem.
Enquanto você pisa fundo no acelerador,
meus pensamentos correm assim como os postes lá fora.
E o frio na barriga volta, o que será daqui pra frente?
Estamos deixando tudo pra trás.
Um recomeço.
Uma fuga,
momentânea das responsabilidades que nos cercam.
É como se os quilômetros de distancia de quem conhecemos,
fossem nos manter a salvo.
Aos poucos sinto a brisa mudar.
Estamos chegando.
Já posso ouvir as ondas quebrando.
Você sorri e me olha.
Estaciona o carro e descemos, atravessamos o calçadão e vamos andando.
De mão dadas.
Pois tudo ficou pra trás.
E aqui somos apenas mais um casal.
Na multidão.