Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com meu nome.
Talvez pela bullyng sofrido na adolescência, e do quanto isso me marcou durante os anos seguintes ao ponto de pensar duas vezes sobre vestir algo mais sensual ou que mostrasse mais o corpo.
A industria da beleza se beneficia incrivelmente de pessoas como eu, e a mídia exalta corpos que em partes se parecem com o meu o que causa ódio e despeito no meio social em que eu vivia.
A preferencia dos garotos no auge da puberdade pelas garotas com seios fartos e quadril largo deveria me beneficiar no campo amoroso, bom, na verdade isso não acontecia, demorou anos pra acontecer na verdade.
A atenção que eu recebia por ser "bonita" virava pesadelo sala de aula a dentro, afinal em maioria ainda somos nós, mulheres, a rivalidade está mais no que presente em nossa vida, minhas coisas sumiam, eu era empurrada, xingada e tão mal falada que qualquer chance de aproximação com algum garoto da minha idade foi frustrada de todas as formas.
Isso doeu, ainda doí um pouco, as vezes.
Meu nome sussurrado ao pé do meu ouvido anos mais tarde, se tornou música aos meu ouvidos mais voltava a ser pesadelo no início do ensino médio, os diminutivos do meu nome me irritavam pois no geral geravam uma falsa ideia de intimidade, os diminutivos me assombravam até que eu finalmente comecei a remar contra a maré.
Lembro de um paquera meu na época, ele me chamava pelo segundo nome, quando não por algum apelido, eu sai da escola, outras salas de aula vieram (cursinhos, faculdade, cursinho novamente) o apelido permaneceu, outros paqueras vieram e o meu nome na boca deles voltou a ser conforto e intimidade verdadeira.
A sorte de ter um nome composto me beneficiara afinal, acho que em partes a idade também (tenho a impressão de que quando você fica mais velho as pessoas ao seu redor passam a te levar a sério), meu segundo nome era forte e me trazia uma segurança, afinal era extremamente incomum.
Os problemas do final da adolescência afinal se resumiram a tentar ser mais "magra" e menos "desbocada" a industria da beleza mais uma vez influenciando a minha geração, que de uma hora passou a exaltar corpos extremamente magros e escapulas salientes, o "ser gostosa" foi substituído por "ser bem feita" eu e minha melhor amiga na época nos jogamos de cabeça na onda.
Algo que teve consequências sérias pra nós duas anos mais tarde, a depressão e a bulimia se alternavam, e ela não sei se por carência ou por sentimento acabou dizendo meu nome ao pé do meu ouvido como outrora outros amantes tinham feito.
Hoje em dia já melhor de tudo o que a adolescência nos causou nos limitamos a nos tratar como "amor" ou "amiga" ou qualquer derivado da palavra que venha ao caso, o peso do meu nome em sua boca nos lembra aquela noite, colchão (de solteiro) no chão e as risadas entre o lençol que dividíamos.
Sinto saudade da nossa "amizade", e de tudo que ela implicava.